Wednesday, June 27, 2007

Aquários

Aquários são pedaços de mar enxertados na terra. Em meio a um oceano de concreto, a centenas de quilômetros da água salgada, alguma lagosta anônima vive isolada em meio aos terrestres.
Profissão de risco essa de bicho de aquário. Estar dentro de um recipiente de vinte centímetros de diâmetro, em meio a milhares de quilômetros quadrados de terra, não é pra qualquer um. Já pensou se o negócio quebra? É, ponha-se no lugar da lagosta. Ela é um astronauta vivendo em um planeta estranho.
Além do risco todo, ser bicho de aquário deve ser algo de um tédio transcendental. O que fazer? Afinal, sozinho, num espaço que mal dá pra se mover, vive-se uma existência totalmente niilista.
Pior que chegam as pessoas e se irritam com a apatia do bicho, daí dão petelecos no vidro para chamar a atenção dele. Claro que tem os cartazes solicitando respeito à lagosta, mas também sempre tem alguém para dar petelecos.
Pobre do animal: além de estar encarcerado e entediado, ainda vêm gigantes para lhe encher a paciência.
Alguns aquários têm cenários artificiais. Naviozinhos naufragados, pequenos jarros de barro, corais falsificados. Outros têm até desenhos no fundo, no estilo daqueles cenários hollywoodianos dos anos 50.
Quem vê o aquário acha bonito, mas penso que a lagosta não se importa muito. Porém, talvez essa parafernália toda seja um gesto de consideração do dono para com ela. O que vale é a intenção, não?
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Imagine a cena: Você morre, vai pro cemitério esperando a vida eterna, e alguns milhares de anos se passam.
Depois desse tempo todo, alguém encontra seu corpo e acha a coisa mais fabulosa do mundo. Pesquisas são feitas, você é fotografado, dão-lhe um nome e uma história. Você renasce após a morte.
Botam seu corpo numa cápsula transparente, e você vira atração internacional.
Pois é assim que aconteceu com os faraós. Os coitados viviam fantasiando sobre a morte, e se preparando para ela. No entanto, passaram-se milênios e eles viraram atrações de museu.
Vá ao Louvre, ou ao Cairo. Aí você verá o que o futuro reservou para os sonhadores, que tanto se esmeraram para morrer.
Vive-se a vida eterna em cápsulas de plástico, aquários de gente.

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