Saturday, July 07, 2007

KK Alfa 3000- Parte 1

Era uma pacata manhã de sábado em Salvador. Seu Raimundo acordou, doidinho pra comer um acarajé.
''Ainda bem que eu moro perto da praia''- ele pensou- ''Lá tem o Acarajé da baiana Madalena, e é só alegria''.
Raimundo botou uma bermuda e um chinelo e então saiu, feliz que só ele. Caminhou algumas quadras e logo estava na praia, onde a Baiana Madalena tinha armado a sua tenda.

-Oxente, Madalena! Eu quero um acarajé dos bem rechonchudos! E bote pimenta, pois meu estômago tá precisando de uma combustão...

-Seu Raimundo, que beleza! O senhor por aqui! Não se aperreie não, pois vou fazer um acarajé no capricho!

A baiana Madalena exerceu toda a precisão de sua arte naquele momento. Seus dedos ágeis e rápidos enrolaram a massa sobre o balcão, acrescentaram o feijão fradinho e os demais componentes com graça, enquanto ela versava com conhecimentos helênicos sobre o último capítulo da novela. Finalmente, veio a hora da pimenta.

Ao retirar a pimenta do pote de vidro, Madalena sentiu um calafrio percorrer a espinha. Era muito forte. Mas tudo bem, seu Raimundo merecia a melhor pimenta possível. Era baiano velho, não haveria nada que não encarasse em se tratando de acarajé.

Raimundo mordeu seu adversário com avidez. Que delícia! Engolia magma puro, carvão em brasa.

Ao engolir o último bocado, no entanto, Raimundo teve um pressentimento ruim. Passou a ver tudo escuro, e gotas de suor começaram a brotar de sua fronte.

''Dona Madalena...''- disse ele, com a voz ofegante- ''Algo está por vir...''

''O quê? o quê?'', exclamou a quituteira, apavorada com a formalidade do consumidor.

''Um cocô...um senhor cocô...''

''Meu deus, seu Raimundo! Corra pro banheiro, aquela cabaninha ali!'

Raimundo correu o mais que pôde com suas pernas velhas e sua barriga inchada, e chegou à santa cabana tremendo como vara verde em vendaval.

Sentou-se no vaso e empenhou-se em sua tarefa. Apesar do mal-estar, estava feliz. Havia três dias que sofria de prisão de ventre. Três dias que algo fermentava em suas entranhas, ansiando pela saída.

No entanto, a criatura não queria sair da toca. Raimundo forçava, e nada, e nada.

O velho começou a fazer um esforço hercúleo, uivando como um cachorro do mato das emaranhadas caatingas do sertão. Contudo, diante da falta de resultados, passou a gritar por socorro.

''Acode aqui, acode aqui! Um médico de bosta presa, por favor!''

Para a sorte do ancião, estava de férias naquela praia um dos melhores enterologistas de São Paulo, o doutor Élmer Damolli. O dr.Damolli foi correndo ao ouvir o chamado desesperado, e ficou abismado com o que viu.

''Seu Raimundo...isso não é coisa pra enterologista não, é caso pra obstetra''

''Mas que que é obstetra?''

''Médico de tirar bebê. Mas não se preocupe, minha esposa, Guta Kika Rio, está aqui e pode ajudá-lo. Ela é a melhor obstetra de São Paulo''

CONTINUA...

3 Comments:

Blogger # said...

Ai, créadu! Hahaha!

11:30 PM  
Blogger Thiago said...

hahaha ... muito bom, mano.

estou ansioso para ler os outros capítulos!

7:47 AM  
Anonymous Anonymous said...

Hehe!

Queremos o resto!

4:14 PM  

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