Wednesday, January 10, 2007

Feliz Ano-Novo!

''Eeeee! Feliz ano-novo! Feliz ano-novo!''
As velhas dançavam com as mulheres, as crianças entorpeciam-se olhando os fogos, e os homens flutuavam num mar de ebriedade. Menos Antônio. Apesar de gostar de festejar, naquele Revéillon ele não estava no astral. ''Puta merda'', pensou, ''tenho quarenta e seis anos e já vi tudo quanto é Revéillon, mas o resto do ano é sempre uma chatice''.
Antônio gostava da virada do ano, até demais. Por isso, todos os outros dias lhe pareciam um tédio só, e este ano ele estava especialmente deprimido.
A ceia começou. Do peru, arrancavam-se nacos, em uma disputa ferrenha para ver quem pegava a melhor parte. Piadas ruins e não tão ruins eram contadas, até que chegou a sobremesa e a hora das resoluções de ano-novo.
''Neste ano'', disse Bruno, o gordo irmão de Antônio, ''Eu pretendo emagrecer!''. Aplausos e louvações foram ouvidos. E Antônio pensou: ''Seria melhor que ele dissesse que pretendia não engordar, pois todo ano ele diz que quer emagrecer e acaba dando mais dinheiro para as indústrias têxteis!''.
''No ano vindouro'', disse a velha Ângela, a matriarca e patriarca da família, ''Eu quero que Jesus mantenha a harmonia e mande muitas bençãos sobre nós!''. E Antônio nada pensou, pois aquilo já era tão trivial que ele nem mais tinha uma opinião.
E assim, todos fizeram suas resoluções, e ele percebeu como todos tinham esperanças e alegrias naquela noite, e pela primeira vez na vida tomou uma forte resolução: ''Viverei todos os dias como se fossem o Ano-Novo!''.
Assim, veio janeiro, e depois fevereiro, e Antônio berrava todos os dias ''EEEEEEEEEEEE! Feliz Ano-novo!!!''. Ia bêbado ao trabalho, começou a investir na bolsa ''Pois começar o ano ousando é promessa de resultado'', apostava em cavalos, e nunca perdeu tanto dinheiro quanto naquele ano, mas mesmo assim era muito feliz.
Rodrigo, um antigo rival de Antônio, não conseguia disfarçar sua inveja pela felicidade do outro. Acabou arquitetando um plano malévolo para destruir seu inimigo.
Veio o dia primeiro de julho, e Antônio chegou no trabalho gritando ''EEEEEEEEEEEEEEEE! Feliz ano-novo!''. Rodrigo olhou para ele e disse: ''Antônio, estamos em julho...justamente na metade do ano!''. Aquilo foi trágico para Antônio, e durante o dia todo ele só pôde balbuciar ''Mas, mas,mas...''.
Rodrigo estava satisfeitíssimo com seu triunfo. Agora, além de pobre, seu rival era infeliz.
Veio o outro dia, e Rodrigo viu Antônio entrar gritando ''EEEEEEEEEEE! Feliz ano-novo'' e espantou-se. ''Mas Antônio! Hoje é 2 de julho!''. ''Justamente, Rodrigo! estamos no fim de ano!''.

Rodrigo então tomou uma decisão extrema: comportaria-se como Antônio. No outro dia, chegou gritando ''EEEEEEEEEEE! Feliz ano-novo!!!'', vestindo uma camisa havaiana e com uma garrafa de champanhe nas mãos.

Imediatamente foi demitido. Sabe como é, trabalhavam em uma agência de publicidade, e o plágio não é algo muito admirado pelos chefes.

1 Comments:

Blogger # said...

Muito bom...pra caramba.

8:26 PM  

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