Thursday, January 11, 2007

A morte da vagabunda

Fiquei sabendo pelo jornal. Me espantei, me espantei de verdade mesmo. As pessoas que conhecemos não morrem assim, simplesmente assassinadas. Assassinatos são notas em jornais, são cenas de filmes, e não mortes reais.
Uma pessoa que toquei, com quem falei, e que teve um papel tão importante na minha vida está morta, assassinada com 4 facadas. Quem matou? Ninguém sabe...Merda! Ninguém deveria ser morto assim, assassinado por ''desconhecidos''. Toda morte deveria ser relatada, explicada, mas tudo bem, isso não importa.
A morta pelo menos eu sei quem foi. Era uma prostituta. Ela foi a primeira mulher da minha vida, quando eu tinha 15 anos. Talvez eu não devesse me importar assim com a morte de uma mulher cujo amor eu tive que comprar, mas eu já deixei há muitos anos de fazer o que eu deveria fazer, segundo a sociedade. Além do mais, o que tem de imoral em transar com uma prostituta? Pelo menos não estou comendo a mulher de ninguém, como tantos ''senhores da moralidade'' fazem.
Mas essa morta não foi especial para mim só porque satisfez meus desejos. Ela olhou nos meus olhos e disse ''Eu te amo''. Lógico que eu sabia que era mentira, mas era tão quase-convincente...E eu, na minha adolescência toda conturbada, aquilo me fez sentir melhor. Por quê? Bom, porque se uma puta tem noção do que é amor, e quer pelo menos por um instante que os outros se sintam amados, talvez o mundo não esteja perdido. Tenho até tentações irritantes de acreditar que a natureza do ser humano é o bem.
Fui ao velório da mulher. Vi sua família, gente simples, sofrida, não tive vontade de falar nada.
Com certeza eles sabiam da ocupação da falecida, mas não deixavam de chorar por ela, talvez um pouco por si mesmos também. Um choro sincero.
Agora estou em casa, sentado. É um mundo tão cão, tão filho da puta que às vezes parece que você vai explodir. Mas eu agüento firme, e ocasionalmente consigo ciscar alguma migalha.

1 Comments:

Blogger # said...

Esse também.

8:27 PM  

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