Sunday, March 25, 2007

Os Imortais

Lendo algumas citações de Friedrich Nietzsche e de Ralph Waldo Emerson, é impressionante perceber que a maior parte delas está tão atual que poderia ter sido dita hoje. Mas por que alguns artistas conservam sua influência e seu impacto durante tanto tempo, enquanto outros desaparecem tão rapidamente?
Alguns pontos podem ser expostos, na tentativa de resolver esta questão.
Primeiro de tudo, sentimento e estilo devem andar juntos. Artistas que se baseiam só na técnica, como os parnasianos, serão lembrados pela força de seu estilo, mas não por sua expressividade. Como sua contribuição para a humanidade não vai além de floreios estilísticos, estão condenados ao esquecimento.
Por outro lado, artistas que só possuam expressividade, mas nada além disso, podem causar alguma sensação durante certo tempo, mas não serão lembrados como imortais. Por exemplo, Jackson Pollock. Apesar de saber desenhar, ele não se utilizava de sua técnica em seus principais quadros.
Dessa idéia, partimos a um segundo pensamento: Para que um artista seja imortal, é preciso que sua obra seja ao mesmo tempo incompreendida e compreendida. Se uma obra é totalmente compreendida, mesmo que seja genial, está condenada a ser contextualizada em seu tempo. Vide Hitchcock: Seus filmes foram superados, tudo o que criou já foi reformulado e muito melhorado. Hitchcock já foi absorvido pela arte e tornou-se o básico. Por isso, ele é um artista ''grande por seu pioneirismo''.
Mas peguemos Hermann Hesse e Pink Floyd para ilustrar o outro lado da moeda: Hermann Hesse passa uma mensagem central em O Lobo da Estepe, por exemplo, mas a cada página que se lê, há milhares de conclusões diferentes que se pode citar. É um livro muito díficil de se assimilar, digamos um livro que jamais será compreendido em todos os seus sentidos, como a própria Bíblia. Muitas vezes, o autor é tão bom que mesmo sem querer dizer algo, ele diz. As palavras assumem um cárater autônomo e mágico. Hesse é assim, assim como a música de Pink Floyd, e seus delírios instrumentais.
Muitas pessoas cultuam a arte nonsense, como se fosse algo de muito profundo. Mas o nonsense não tem nada de mais. Qualquer louco de hospício pode fazê-lo. A verdadeira arte grandiosa depende de se perceber que há muito para ser compreendido no que não se compreende. Não é meramente uma casca vazia, uma não-compreensão fashion. O que não está escrito precisa ser tão grande quanto o que está escrito.
Assim, é possível ter uma compreensão um tanto maior do porquê das citações de Nietzsche e Emerson terem durado tanto tempo: Sendo ainda incompreendidas, elas ainda têm muito a contribuir. Aliás, boa parte das pessoas da Terra, talvez a maioria, não consegue compreender 10% do que eles dizem, mas percebe que deve respeitá-los. E é por isso que a cada era que se passa, os grandes se tornam mais respeitados. Porque a cada vez que o homem evolui, consegue entender uma fração maior do universo que eles disseram.

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''Ser grande significa ser incompreendido'' ,R.W. Emerson

1 Comments:

Blogger Thiago said...

é exatamente isso.
hoje em dia não se encontra mais arte profunda e com conteúdo, pelo menos não na parte da música.
esse modismo americano forma bandas que só passam idéias simples e objetivas. simple plan e cia. "simple plan", hahah, até o nome já diz.
acho que a cada ano que passa o número de idiotas cresce, como dizia Homero, e talvez isso seja mais um fator que contribui para a maior incompreensão dos incompreendidos do passado.
bom post , cara.
té mais.

3:39 PM  

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