Friday, May 25, 2007

Mulher

Mulher sem rosto
tens vergonha
de não ter coração?

Vinte

dez anos mais dez anos
fazem todos vinte anos
vidas dentro de uma vida

Brisa

garoto salta tarde
roupas caderno escola
o calendário feriado
pra cama rapaz

mulher lava encardido
gelada escova sujeira
o bolso desbotado
barão metalizado

cachorro cheira proibido
gritos esporros paciência
a migalha acrobata
o dia do cão

velho sopra harmonia
ruga cansado desperta
a melodia antiga
a vida sobrevive

Monday, May 14, 2007

Loucos e loucos

Nós rimos dos lunáticos, mas eles é que são felizes. Ah, como eu queria ser louco...Estar internado em um hospício e enxergar o Palácio de Versalhes; Escrever qualquer idiotice em um papel e sentir-me como se tivesse criado a Bíblia; Achar que
fosse um guerreiro medieval e viver aventuras fascinantes, tal qual um Dom Quixote.
Será que a realidade vale a pena? Será que nós não somos todos loucos por compactuar com este lixo, e os loucos são os verdadeiros sãos que encontraram um caminho para viver?
Seguimos filosofias óbvias e gurus falsos, matamos-nos uns aos outros por futilidades, damos importância a merdas como dinheiro e status. E, no fim das contas, usamos drogas para ficar ''loucos''. Não é contraditório?
Ah, querida insanidade, desça sobre mim e tape meus olhos...nada pode ser mais doce que o beijo da demência.

Saturday, May 12, 2007

Nada de novo no front

Tenho vinte anos (e um dia). Ainda estou no começo da vida, é um tanto quanto cedo para desiludir-me, mas ando um tanto chateado.
A questão é simples: tenho um sentimento que se espalha em mim de que sou um tigre de papel, uma casca vazia.
Desde criança, eu amei a arte. Digo sem exageros. Amo a arte, várias formas dela.
Tentei desenhar, e para uma criança eu desenhava bem, mas parei (como tantas crianças param). Mais tarde tentei fazer música, mas não tinha um interesse real e fiz besteira.
O que sempre mantive foi a escrita.
Mas esta...esta é a mais dura das artes. Sua simplicidade é enganosa, e encerra uma gama infinita de armadilhas.
Não que eu não saiba usar as palavras, mas temo que as use de uma forma medíocre. Temo ser um mero jornalista, um homem que saiba arranjar palavras e passar uma mensagem, mas não alguém que consiga fazer algo realmente profundo.
Tinha esperança nos quadrinhos, mas minha motivação passou, e com ela as minhas idéias. Com isso, refugiei-me definitivamente na Literatura. Mas esta é tão difícil, tão ilusória, e é o refúgio de tantos medíocres.
Escrevo contos que não costumo postar no blog, os quais têm sido uma motivação, mas também uma fonte de conflitos. Admiro a descrição de paisagens e sentimentos que os grandes escritores fazem, mas meus escritos são um tanto quanto secos. Queria ter o dom de fazer descrições, mas ainda não o obtive.
Talvez minha natureza seja narrar histórias aparentemente superficiais, e passar a bola para o leitor decifrá-las. Mas estarei eu autorizado a escrever assim? Estarei eu sendo profundo ou apenas mais um medíocre raso?
No entanto, perseverarei, lutarei para melhorar. Aquele que pára já está morto. Posso ser um medíocre, mas serei o medíocre mais esforçado possível.
Não quero ser apenas alguém que leu livros demais e resolveu falar bobagens por aí. Arte, para mim, está ligada à idéia da antropofagia: Devorar para absorver.
Espero absorver o que puder, e fazer disso parte de mim, e não transformar meu alimento espiritual em merda.

Saturday, May 05, 2007

Roteiro malfeito

Estava sentado em um ônibus, quando ouvi dois pivetes conversando. Os dois deviam ter por volta de 13 ou 14 anos e vestiam roupas praticamente iguais, consistindo em bonés, shorts jeans, camisetas e tênis. Tudo em mau estado e sujo, combinando com seus donos.

-Ah, mano, amanhã eu vou na casa da Kauana!

-Sério mêmu? Ela é gostosa, num é não?

-Ô se é...vê se ucê vai lá também. Daí fica eu sozinho, mais você sozinho, e elas duas sozinha!

-Eu ovi falá qui as dua são virgem!

-Daí é mái gostoso, fais ''pop''...

- O Ispóque tá jurado de morte, num tá não?

-Acho que tá, ele fuma os baguio e fica muito lôco!

Enquanto observava a conversa, fiquei pensando em como aquele tipo de ser humano me incomodava no fundo da minha alma. Tentei achar as desculpas mais convencionais: ''Eles são pobres, coitadinhos!''. Mas não consegui justificar a bestialidade daqueles animais.
Cheguei em casa, pensei sobre o assunto e resolvi tirar tudo a limpo, escrevendo um texto no meu blog.
Desde que o blog é meu, e tenho poderes absolutos, resolvi mudar a situação.
Voltei no tempo, sentado no ônibus. Lá estavam os pivetes falando besteira. Peguei uma borracha Faber-Castell gigante e apaguei a cabeça dos dois. Nada! Parece que a cabeça não era uma parte muito importante de seus organismos primitivos.
Esfreguei a borracha com mais abrangência e apaguei os dois completamente. Depois peguei um lápis e desenhei duas garotas bonitas. Escrevi diálogos sobre a poesia de Mário Quintana e coloquei com delicadeza dentro de suas cabeças.Por incrível que pareça, elas puxaram conversa comigo.
Retribui, sem segundas intenções, e tive alguns diálogos muito bons.
Pouco tempo depois, tive que descer do ônibus e voltei para casa.
Cheguei mais cedo do que esperava, e li um pouco até a hora de dormir.