Thursday, November 30, 2006

Uma história com final feliz

Hoje, 30 novembro de 2006, eu acordei às 4 da manhã como fiz tantas vezes e fui ao Tiro de Guerra, mas dessa vez era diferente. Eu estava vestido como um civil, e até cheguei um pouco mais tarde do que costumava.
Chegando lá nós devolvemos nossas carteirinhas de identidade militar e pegamos nossas carteirinhas de reservista, além de outras medidas administrativas. Então o sargento colocou-nos em forma (fileiras), disse algumas palavras de despedida, e disse o último ''Fora de forma! Marche!''. E todos gritaram ''Brasil!'', mas eu estava meio disperso e não gritei com muita força, infelizmente.
Agora sou um civil de novo, e não preciso mais fazer a barba todos os dias, posso deixar meu cabelo crescer, não tenho mais que acordar às 4 horas...Não digo que esteja livre. Quem de nós está livre da faculdade, ou de trabalhar pelo resto da vida?
Mas mais do que uma obrigação, o Tiro de Guerra foi uma escola em que aprendi muita coisa nova. Tive vários momentos em que fui provado física e mentalmente, como a marcha de 14 km sob um sol escaldante; as ''corridinhas mixurucas'' da educação física, praticamente maratonas; o bivaque, quando dormimos sob uma lona gelada e suarenta no mato; o tiro de fuzil, que ao contrário dos filmes é muito difícil e muitos idiotas a serem suportados na tropa.
Houve também momentos bons, coisas que não quero esquecer, como as paisagens de alguns lugares pelos quais passávamos correndo ou marchando; o sentimento de ter vencido um desafio; o aprendizado de muita coisa sobre o exército, que se tornou uma coisa menos misteriosa e mais sensata para mim. Mas você sabe o que eu realmente mais gostava? Pode parecer idiota, mas eu gostava do nascer do sol. As pessoas falam do pôr-do-sol, mas o nascer do sol é mais bonito, pelo menos quando você serve o exército, e ainda mais naquela região desedificada. Um dia era roxo, no outro o sol estava vermelho e o céu branco, como a bandeira do Japão...e cada nascer do sol avisava que a hora da ''jornada'' daquele dia estava acabando.
Sim, foi um ano duro, tive que me superar diversas vezes para conciliar faculdade e Exército.
Mas sinto que agora fiquei um pouquinho mais forte, e me alegro por ter estado nas fileiras do EB.

Friday, November 17, 2006

Dor

Quando ele chegou em casa pensando ''merda de vida'', ninguém sabia, somente ele.
A dor, a dor já tinha se tornado normal... ''Será que as pessoas estão sempre cansadas como eu? Será que é normal estar cansado e com dores físicas, e com dores no espírito o tempo todo?''
Era um pedreiro. Talvez seja normal um pedreiro ter dores físicas o tempo todo...quem sabe? só um pedreiro poderia dizer...mas aquela dor nas juntas, a dor de cabeça por causa do calor, a poeira de cimento avermelhando os olhos e o fedor do suor pegajoso realmente o incomodavam.
E agora estava ali, no sofá de casa, com dor. Levantou-se e olhou no espelho, e realmente enxergou seu rosto. Não como nós, que nos penteamos todo dia mas não enxergamos o nosso rosto de verdade. Viu e observou...as olheiras fundas, os olhos vermelhos, a barba malfeita, os vincos de dor ao lado das bochechas. ''Qual será pior? a dor física ou a dor da alma? Dizem que é a da alma, mas eu tenho minhas dúvidas''.
E então resolveu tomar um trago, porque só trago lhe fazia bem naquelas horas.
Mas por mais que bebesse, a dor não passava, e já não sabia que tipo de dor tinha, se era física ou mental, ou se eram as duas. ''Estranho...sempre que eu bebia me sentia bem''.
Resolveu ir dormir. Agora não sentia mais dor, estava mais tomado pelo vazio. Estava tomado pelo medo do próximo dia.

Sunday, November 12, 2006

Sargento Jack

Sargento Jack chegou ao bar cansado e um pouco disperso, porque havia ficado a tarde inteira caminhando sob o sol.
A garçonete, chamada Telma, era a coisa mais feia que ele já vira na vida (ganhava até das entranhas de um homem baleado escorrendo pelo ventre) mas ele não via porque não ser simpático.
''O que vai querer senhor?''
''Me dá uma dose de whisky, por favor''
''Qual marca?''
''Johnny Walker, pois estive caminhando hoje...será apropriado''
A garçonete não gostou do gracejo. Na hora de fazer os pedidos, considerava-se uma deusa intocável, e uma blasfêmia daquelas não poderia ser perdoada.Tratou-o com rudeza:
''Alguma coisa a mais ou só o seu 'whiskyzinho' ?''
O sargento não gostou daquilo, e foi direto:
''Escuta aqui, vaca, controla a sua língua porque não estou a fim de arrebentar a sua cara aqui.''
A moça, que era uma barraqueira de primeira, não deixou por menos:
''Você não é homem para isso!''
Sargento Jack não deixou por menos, desceu o braço no rosto de Telma com toda a força, e a mulher caiu, cuspindo três dentes e babando uma gosma roxa feita de sangue, saliva, e talvez um pouco de chiclete.
Dois seguranças cercaram o Sargento Jack, e ele disse:
''Vocês querem whisky, rapazes?''
E os seguranças disseram que não queriam, e estavam querendo mesmo era arrebentar com o sargento Jack, mas ele tirou a pistola da jaqueta e apontou para os dois e disse ''Vocês tem certeza que não querem?''
E eles disseram que queriam e puseram-se a tomar.
O sargento Jack então preencheu uma reclamação contra a garçonete e colocou na urna de sugestões, e então foi embora.